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Ainda que me reste um último suspiro…

Se eu fosse um livro…

Na facul a professora de literatura japonesa pediu pra fazermos uma redação baseada no filme Fahrenheit 451, no qual a literatura é proibida e as pessoas são obrigadas a decorar livros para poderem passá-los para a posteridade.

Achei legal compartilhar o resultado disso com vocês! 🙂

PS: Saudadeeeeeeeeeeeeee de blogar!!!

PS2: Eu gostaria de transformar esse post em meme e passar pra Lia e pra Paloma! 🙂

Se eu fosse um livro, gostaria de ser “A Menina que Roubava Livros”, de Markus Zusak. Não porque sou meio obcecada pela segunda guerra mundial, um dos acontecimentos históricos que até hoje eu busco entender, mesmo sem que qualquer membro da minha família ter estado envolvido, mas simplesmente pelo fato de ser algo que prova que a mente humana é manipulável tão facilmente que qualquer um que domine a arte do discurso pode assumir o poder de forma tão assustadoramente cruel e ainda provar por a+b que está certo.

O modo como esse livro chegou até mim o difere de qualquer outro livro que eu tenha lido. Meses antes eu estava em Portugal, em intercâmbio e numa das viagens que eu fiz, visitei Dachau, o primeiro campo de concentração nazista da Alemanha. Quando fui pra Alemanha a única coisa que eu sabia era que queria conhecer um campo de concentração, meu objetivo era ir para Auschwitz, mas não consegui porque passei muito pouco tempo e fui apenas para Munique. Mas conhecer Dachau me marcou muito, porque simplesmente foi o primeiro campo, era um campo de trabalho, não deveria matar pessoas, mas era montado como a maioria dos campos de extermínio e estava ali, do lado de Munique, mas as pessoas não sabiam e não percebiam o que acontecia ali, apoiando Hittler em todas as suas decisões.

No regresso ao Brasil tive que me desapegar de muitas coisas, percebi então que tudo é temporário e o que fica mesmo são as lembranças e os sentimentos. Assim que cheguei em Assis me reencontrei com uma pessoa que foi muito especial para mim, que que conhecia desde os nove anos e foi através dessa pessoa que o livro chegou em minhas mãos. Eu estava passando por um momento um pouco difícil e achava que não ia conseguir me acostumar com todas as mudanças que estavam acontecendo em minha vida, então mergulhei na leitura e fiz do livro meu porto seguro, minha porta de escape dos problemas. Acontece que Liesel Meminger, a protagonista do livro, também fazia isso com seus livros, mesmo quando não sabia ler, a menina usava o livro que havia roubado como algo que a protegeria de todas as dificuldades de adaptação que estava passando, por ficar em uma nova cidade, ser separada da mãe e estar atrasada na escola.

Liesel também tinha um melhor amigo, Rudy, que era apaixonado pela garota, que não admitia, mas via em Rudy sua alma gêmea. Mas Liesel não estava destinada a ficar com Rudy, eles iriam compartilhar os melhores momentos de suas vidas, mas depois Liesel ficaria novamente sozinha, se acostumando, sobrevivendo. Esse meu amigo que me emprestou o livro disse que eu sou isso, uma sobrevivente. Disse também que somos almas gêmeas, mas que não podíamos ficar juntos naquele momento.

Projetei nos livros minha vida naquele momento, reconheci os lugares pelos quais passei na Alemanha quando lá estive e vi Dachau, o único campo de concentração citado no livro, senti sua energia e melancolia pessoalmente e mentalmente enquanto percorria as páginas do livro. Senti que sou, assim como Liesel, uma sobrevivente, que se adapta as perdas e as conquistas sem fazer disso o ponto central da sua vida, que se contenta com pouco, roubava apenas um livro por vez, mesmo tendo um biblioteca inteira a sua frente, sofria sem buscar incomodar ninguém a sua volta e buscava fazer o melhor de si para quem lhe era importante: seu pai, sua mãe, a mulher do prefeito (o mais perto de uma amiga que ela teve) e Rudy.

Roubei o livro. Na verdade ainda não o devolvi e se o dono não pedir, gostaria de ficar com ele pra mim. O que eu gosto da segunda guerra mundial, não que se tenha algo que se possa gostar em toda aquela tragédia, é que as pessoas que acreditavam, que se adaptavam, que seguiam sua vida, sobreviviam. E só depois de sobreviver é que puderam passar a viver. Tem vezes na vida em que lutar é inútil, o que nos sobra é a esperança de algo futuro e a força para sobreviver dia após dia.

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K-Chan Nhayök

5 comentários em “Se eu fosse um livro…

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