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Ainda que me reste um último suspiro…

Prazer, meu nome é Destino…

 

 

Ela vinha caminhando, em passos lentos, com os fones de ouvido que tocavam em alto som uma música que aquele garoto, que naquele instante era para ela o melhor garoto do mundo, havia lhe mostrado.

Devido ao som alto e aos pensamentos embaralhados, que lhe faziam sorrir, a garota não prestava muita atenção em nada á sua volta e não notou que era seguida. Continuou caminhando pela estreita rua de paralelepípedos, que a levaria para sua casa, caso ela escolhesse continuar nesse caminho por mais uns dois minutos. Contudo, como sabemos bem, escolhas não são coisas fáceis de fazer.

Entre seus pensamentos soltos, a garota se lembrou de checar a hora em seu aparelho de celular, mas essa simples tarefa se tornou impossível, uma vez que o celular não estava com ela. Assustada ela parou bruscamente, franziu a testa e se lembrou de que havia esquecido o celular em cima de uma pequena mesa, na casa do tal garoto. Virou-se tão bruscamente quanto havia parado e deu de cara com um cara muito estranho.

Ele era alto, sujo, com cabelos negros e compridos, presos em dreads, usava uma faixa na cabeça e roupas de cigano. Uma calça vermelha e larga e camisa branca, feitas com um pano leve como a seda, em mãos havia anéis em quase todos os dedos e seu sorriso de orelha a orelha revelava seus dentes, uns branquíssimos, outros podres e, entre eles, um dente de ouro, reluzindo contra o sol.

Seu nome era Destino, mas é claro que a garota não sabia disso. Com uma reverência ele a cumprimentou.

– Não se assuste, não pretendo te fazer mal, contudo apenas aquilo que escolher poderá definir aquilo que lhe reserva. As escolhas são a parte mais difícil na vida de qualquer ser humano, afinal de contas, antes de escolher, existem infinitas probabilidades de coisas que podem acontecer, mas a partir do momento que troca isto por aquilo, ou decide que não quer nenhum dos dois, as probabilidades diminuem. E assim acontece pelo resto da sua vida, a cada segundo. Decide-se começar a andar usando o pé direito, ou esquerdo, tudo influencia no ciclo da vida e as probabilidades vão diminuindo, como se passassem por um funil, até que sobre apenas uma e á essa uma o homem decidiu dar um nome engraçado: Destino, o qual, a propósito, é o meu nome. – E, após se apresentar, Destino beijou a mão da garota.·.

A garota não conseguia gritar, nunca conseguia quando estava nervosa, era uma coisa dela, a voz lhe falhava, todas as forças lhe faltavam, ela mal conseguia se mexer, mas Destino não pretendia ser mal com ela, pelo menos não naquele momento, era uma escolha dele e, por isso, não a estava segurando, desta forma ela conseguiu sair, com o passo mais apressado que pôde e escolheu ir em direção á sua casa, onde entrou e se trancou no quarto, para chorar, escondida e silenciosa, sua única forma de demonstrar medo.

***

A escolha do garoto foi levar o celular. Depois de se despedir da garota nas escadas ele entrou e se jogou na cama feliz, de bruços podiam-se notar suas lindas sardas marrons em seu corpo branco e suas costas largas, estava em paz. Quando se vira, ainda com um leve sorriso no rosto pôde ver o celular da garota em cima de um balcão, ao lado de sua cama. Colocou os óculos, sentou-se na cama, pegou o celular nas mãos e balançou a cabeça negativamente, mas logo em seguida sorriu, levantou-se, vestiu uma camiseta qualquer e seu moletom preferido e saiu de casa.

Eram sete horas da manhã, um vento morno soprava gostoso no verão português, Coimbra não tinha estudantes nas ruas, estavam todos em suas aconchegantes casas dormindo, ou curtindo o restinho de madrugada daquele domingo. A garota só foi embora porque tinha planos para seu dia, apesar de ser domingo.

O garoto caminhou, passos rápidos, olhar no chão, pensamento na noite anterior. É tão simples se apaixonar quando se é jovem, se os dois querem não existem barreiras, tempo ruim, desencontros, é tudo fácil e gostoso. O problema é se um dos dois não quiser, ou não ter certeza se quer ou não.

Ele não podia negar que estava confuso, tinha alguns receios sobre o que a garota sentia, já havia dito que a amava, mas depois desconversou e deixou pra lá, não obteve resposta e vivia com a dúvida de se a obteria caso houvesse esperado um pouco mais para desconversar. Ter aquele celular em suas mãos poderia ser a forma de sanar algumas dúvidas, de obter algumas certezas e de chegar mais perto de uma resposta. O ciúme tomou conta do garoto e com aquele celular ele poderia confirmar ou desfazer sua desconfiança, desconfiança que tinha nome, um nome com duas letras: ex.

Em seus bolsos suas mãos começaram a apertar mais o aparelho, seus dedos brincavam pelos botões cuidadosamente para não apertá-los, seus passos ficaram mais apressados, queria chegar logo para se livrar da tentação. Teria alcançado a garota se não fosse…

***

Em sua casa a garota se acalmou, bebeu um pouco de água e deitou na cama, fechou os olhos, mas não conseguiu dormir. A luz já entrava pela janela e estava começando a esquentar. Algo a inquietava, mas, depois de seu encontro com o Destino, não desconfiava que pudesse ser outra coisa. Ainda estava assustada.

Começava a pegar no sono quando se lembrou de olhar as horas, mas lhe faltava uma coisa: o celular!

Inquieta, mas com muito medo pra sair, a garota adormeceu…

*TOC, TOC, TOC*.

Silencio…

*TOC, TOC, TOC*.

– Oi? – disse a garota ainda acordando.

– Oi, sou eu! – disse baixinho uma doce voz masculina por trás da porta.

“Ele deve estar com o celular, parece chateado pela voz… Ou será que está apenas falando baixo pela hora? Aliás, que horas são, meu Deus? Queria tanto saber as horas…” a garota se levantou enquanto pensava, abriu a porta e sorriu.

– Você esqueceu lá em casa, meu bem. – disse o garoto tirando o celular do bolso de seu moletom e entregando-o.

– E você se incomodou de vir trazer… Podia ter deixado, eu buscava mais tarde! – disse a garota pegando o celular e abraçando o garoto. Ele estava lindo, não tinha feito nada demais, mas estava lindo. Não… Melhor… Ele era lindo. Seu coração batia feliz por estar novamente ao lado da pessoa amada. Eles se beijaram.

– Entra… – disse a garota. – Descansa um pouco, depois você volta pra casa. Tá cedo ainda!

– Não, não… Tenho que ir! – disse o garoto sorrindo – Vim só pra te ver mais um pouquinho! Amanhã a gente dorme juntinho!

– Obrigada por ter trazido, você sabe que é importante pra mim ficar com o celular…

– De nada… Áh! Tá descarregado! O carregador não ficou lá não né? Porque agora eu não volto!

– Não, não, tá aqui! Valeu! – a garota sorriu, aliviada, ela não tinha o que esconder, mas não queria ter que explicar algumas coisas.

– Então ok! Beijinho! – eles se beijaram e ela o acompanhou até a porta de saída da casa.

– Até amanhã? – perguntou ela.

– Até, meu bem. – respondeu ele.

– Te amo, sabia?

E então ele foi embora com a certeza que, se não tivesse escolhido parar, não tivesse olhado o celular e a bateria não tivesse acabado justo quando ia abrir as mensagens, não teria ouvido aquelas palavras, pois o Destino depende de suas escolhas, mas as vezes ele interfere para que você faça as escolhas certas.

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K-Chan Nhayök

5 comentários em “Prazer, meu nome é Destino…

  1. Vai achar que tô exagerando se disser que terminei o texto arrepiada? “o Destino depende de suas escolhas, mas as vezes ele interfere para que você faça as escolhas certas” véi, eu tava precisando disso, de verdade <3 amei o texto, tádiparabéns!

  2. oie aime, tudo bom?
    adorei o texto… e acredito muito nisso, de que o destino está sempre dando um empurrãozinho para que certas coisas aconteçam. acredito que tudo o que nos acontece na vida é por um motivo especial, às vezes que só compreendemos tempos mais tarde. gostei do teu desfecho… não estava esperando por este final, e acho que isso é o melhor que pode acontecer quando a gente escreve, néam? não ser previsível… enfim! adorei… e eu estava precisando ler isso mesmo, pra acreditar (ainda mais um pouquinho) que o destino vai acertar as coisas quando for a hora certa! é o que eu ando precisando acreditar no momento… 😉
    beijo, beijo!

  3. Aimeeeee, que texto lindo!!!
    Demorei pra vir ler, mas ainda bem que não esqueci!! Que história maravilhosa, sensível, terna, daquelas de encher o coração de esperanças boas! Menina do céu, cê tem talento! Sempre que tiver uma ideia pra algum texto, uma inspiração surgir do nada, deixe escoar e fazê-las se tornarem palavras!
    Beijão pra você!!

  4. Eu achei muito lindo, e me tocou bem onde vive minha paz, dava pra sentir a cor das casas velhas da sé velha, e ouvir os teus passos pelas calçadas de paralelepipedos, senti a calmaria da manhã com o sol levemente quebrando o frio, da pra lembrar o ar de amor descontraído, o cheiro do teu quarto ( de furão mijado), o tecido e o cheiro do moleton eu imaginei.
    Te amo meu bem, só acho que infinito é algo que nunca diminui, apesar de haver infinitos maiores que os outros, mas eu entendi que tu estava falando de convergencia, mesmo assim fiquei sem folego, da pra sentir que tu viveu o que ta escrito.

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