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Ainda que me reste um último suspiro…

Agosto com todo seu gosto… #3

Querido E.

 

 

Agosto já passou faz tempo, na verdade já está quase chegando um “novo” agosto… Me desculpe. Acontece que pra mim não parece que passou tanto tempo… Eu fui amaldiçoada com a falta que você me faz a cada dia e por isso todos eles me parecem simplesmente iguais. Se é agosto ou maio já não me importa tanto.
Já passou mais de um ano desde que você decidiu que não deveríamos ser um para o outro nunca mais…
Muita coisa aconteceu, muita gente passou e posso até dizer que finalmente aprendi o que é o amor. Amor visto aqui como palavra do dicionário da língua portuguesa, mas infelizmente ainda não aprendi o “amor em francês”, o amor que eu sou.

 

Aqui escreve uma menina de 22 anos que teve a chance de experimentar muito mais que a esmagadora maioria de 30. Em contraponto fui abençoada com coisas e pessoas maravilhosas a minha volta, sei que não posso reclamar e posso garantir que é graças a elas que consigo acordar todos os dias e seguir em frente, mesmo com essa terrível dor que me tira o fôlego ao despertar e o sono ao me deitar…
Se tristeza fosse medida em lágrimas, as minhas seriam capaz de renovar esse oceano que nos separou, literalmente, nos últimos três anos.

 

Tenho medo do amanhã, todas as noites caio no sono esperando não sonhar, não sou mais a mesma pessoa com planos, metas e desejos. Se eu te transformei em um sonhador, você me transformou em uma sobrevivente.
Arrumo desculpas, motivos… Assumo compromissos e até arranjei um cachorro para ter uma razão, um “algo” que precise de mim amanhã e eu precise continuar por mais um dia, dois, uma semana, um mês, um ano…
Não digo que meus dias tenham sido cinzentos desde março do ano passado, não, pelo contrário! Tenho dias lindos com risos, amigos e muito sol, mas a sensação de que eu estou completamente sozinha nunca mais me abandonou.

 

Se eu amo você? Não… Acho que não…

 

Essa não é uma carta com um pedido desesperado de volta, afinal de contas aprendi que o passado deve ser enterrado. Não quero você, nem ninguém que “possa me dar o que você me dava”… Na verdade estou escrevendo, pois queria recuperar algo que você, de forma lenta, e talvez sem querer, conseguiu tirar de mim em cinco anos: a minha vida.

 

Desde que tudo acabou apenas sobrevivi. Fiz coisas que não queria, fiz coisas que queria muito, não fiz nada… Mas ainda não consegui de volta algo que me faz muita falta: eu mesma.
Escrevo porque penso que pode ser que assim me liberte deste encosto que me proíbe de ser eu mesma, desta máscara de mulher forte e decidida que não sou eu, mas apenas a representação do que as pessoas esperam de mim desde que terminamos.

 

Adoeci, sei que estou doente porque dói, dói muito e eu não sei explicar onde nem o porquê. Dói todo dia, mesmo no meio de uma gargalhada. É uma sensação dum vazio no estômago e um peso na garganta que não me deixa respirar, é um cansaço na vista e um aperto no peito junto com uma forte dor de cabeça e a falta de vontade de continuar com qualquer coisa, inclusive de continuar a escrever. Mas não vou desistir.

 

Não quero alguém para te substituir, até mesmo porque essa dor não se chama solidão e muito menos saudade. Não estou sozinha e sou inteligente o suficiente para entender que uma pessoa como você acabou por me fazer muito mal, reafirmo: mesmo que sem querer. Alias o único bem proposital foi feito em março: ao me deixar partir. Hoje eu sei que se ainda estivéssemos juntos não me sobrariam forças nem para sobreviver.
Sei também que não posso voltar no tempo, refazer minhas escolhas, repensar minhas decisões, das quais muitas foram feitas em prol de um “nós dois” que nunca realmente existiu pra você, talvez nem pra mim. Mas não estou sabendo lidar com isso e essa talvez seja uma carta com um pedido de socorro.
Não quero estar onde estou não quero fazer o que eu faço, mesmo que isso seja o que eu sempre sonhei.

 

Como disse acima: não sonho mais.

 

Depois que terminamos meus sonhos se converteram em pesadelos por um longo tempo. Agora consegui uma folga deles, mas ainda assim sempre fecho os olhos com medo. Não sei mais se os sonhos mostram o que realmente desejamos, se revelam quem nós somos. Eu costumava achar que sim, mas agora me mostram uma “felicidade” impossível e me isso me faz muito mal. Logo no começo eu torcia para não acordar, preferia me prender nos sonhos, pois eles pareciam melhor que a realidade, mas hoje eu tenho medo deles, fujo toda noite: não quero “viver” o que eles me mostram, ou melhor, sei que é impossível viver aquilo e quero fazer minha realidade ser melhor que eles para não acordar me lamentando por ter despertado. Mas não consigo fazer isso sozinha, tenho tentado já faz mais de um ano e estou prestes a desistir.

 

Quero me livrar dessa maldição, me livrar de você. Mesmo já tendo me livrado de tudo que me lembre de você e até mesmo não me lembrar de você quanto estou acordada, quando estou ocupada… Mas não consigo me livrar dos sonhos.

 

Agradeço a Deus pela minha família, mesmo que eles não estejam presentes e ao meu cachorro, pois eles são o que me fazem precisar seguir em frente, mesmo que só em aparência. Agradeço também a força que descobri que tenho, afinal de contas minha “carcaça” está aguentando legal.
Espero um dia (e se tenho um plano, um desejo, um sonho –bom– é que esse dia chegue logo!) poder te escrever contando que estou bem, que essa carta foi um surto e que a mulher de amanhã ri da menina de hoje, que escreveu palavras tão desesperadas para alguém que na verdade nunca fez parte de sua vida, mas que trouxe coisas boas (sim você trouxe muita coisa boa não pretendo te fazer de vilão e desculpe se pareceu isso). Também espero te dizer que essa mulher perdoa todas as coisas ruins (pois é, acho que ainda não perdoei, ou talvez não ME perdoei por te perder…), que ela cresceu e seguiu em frente com novos sonhos e novas pessoas, que não tomaram o seu lugar, mas trouxeram coisas melhores ainda.

 

Com AMOR.

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K-Chan Nhayök

3 comentários em “Agosto com todo seu gosto… #3

  1. Para: A personagem do texto
    De:Jhessy

    Só uma coisa digo- Se ame!
    Assim não terá que acordar por conta das pessoas que estão ao seu redor, e nem se deitar morrendo de chorar.
    O amor é um sentimento bom, saudavel, gostoso de sentir, alegre, traz paz, acho que podemos nomear esse sentimento com outro nome, Mas não, não é AMOR!

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