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Ainda que me reste um último suspiro…

Agosto com todo seu gosto… #5

hope

Agosto chegou novamente… E mais uma vez a garota passará por momentos difíceis, mas que mesmo assim trazem esperança de um algo novo… Uma chance nova.
Agosto é um mês difícil, emblemático, cansativo, que passa devagar, que marca que o ano está chegando ao fim e as energias estão se esgotando lentamente.
Mas há de se ter força, de lutar.

Fica aqui uma sensação que somente o ano novo costumava trazer: a sensação de seguir em frente e enfrentar o desconhecido.
Muita coisa ainda há de vir e o ser humano não tem tempo de fazer uma digestão completa antes de se levantar e partir para o trabalho.
Trabalhar, é isso que precisamos fazer todos os dias, trabalhar incansavelmente para que a vida não nos pegue desprevenidos como um chefe que fica a espreita de um deslize de seu funcionário para demiti-lo. A vida quer nos demitir o mais rápido possível, mas precisamos mostrar pra ela que somos bons funcionários e que podemos passar por cima das dificuldades, merecendo até uma promoção.

Mas temos que tomar cuidado, não queremos nos tornar mecânicos, se não seremos substituídos por máquinas e não teremos mais o traço mais bonito e estúpido do ser humano: o amor.

Encerro agosto com todo seu gosto com um pouco de esperança, um sorriso aberto, olhos no futuro e trazendo um gostinho do muso inspirador que não podia aparecer em hora melhor, indicado por uma amiga que é mais que amiga, é minha Amora, com vocês:

Sugestões para Atravessar Agosto
Caio Fernando Abreu

Publicada originalmente no jornal O Estado de S. Paulo em 1995, a crônica integra a coletânea Pequenas Epifanias (reunião de textos escritos entre 1986 e 1995), lançada pela Editora Agir. Fonte: Zero Hora.

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro — e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.

Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos — ou precauções — úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile à fantasia, categoria originalidade… Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu — sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques — tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não deem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas — coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

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K-Chan Nhayök

3 comentários em “Agosto com todo seu gosto… #5

  1. Mais um mês começa e com ele vem aquela esperança de um novo recomeço!
    Não que eu esteja muito animada com Agosto, mas espero que as coisas melhores pra todos a partir desse mês (:
    Muito bom esse texto do Caio Fernando Abreu, é o primeiro que leio de verdade pq só vejo trechos pelos facebooks da vida. Não imaginava que ele era tão brilhante assim.
    Bom mês pra você :*

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