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Ainda que me reste um último suspiro…

4 meses sem meu filho

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Me disseram que fui fraca, que fui cruel, que “matei meu filho”… Me disseram que no meu lugar JAMAIS fariam isso, que fiz a escolha errada, que não mereço ser chamada de mãe. Me disseram que sou homicida, assassina, criminosa, sem coração. Me disseram tantas coisas ruins…
Mas também houveram os que me entenderam, os que me apoiaram e os que ficaram ao meu lado. E a maioria deles são mulheres, a maioria deles são mães.

Acontece que, quando eu descobri que meu filho, meu primeiro filho, ia nascer e morrer em seguida, ou nascer morto, ou morrer antes de nasceu eu simplesmente não consegui suportar o pensamento de ter que enterrar o meu bebê recém nascido. Simples assim.

Não, não foi uma gravidez planejada, mas a ideia de ter um bebê já vinha rondando a minha cabeça há um ano mais ou menos… Dizem que quando você deseja, você atrai e acho que foi isso que aconteceu. Em dezembro de 2013 eu tive um probleminha hormonal que me desregulou, passei um mês inteirinho menstruando sem parar, acho que as mulheres devem imaginar bem como isso foi incômodo…
Aí o médico me pediu para suspender o anticoncepcional, que eu tomava para controlar meu ciclo, meu peso e algumas dores, por um tempo. O tempo passou e não voltei a tomar,quando eu decidi voltar, a minha menstruação, que sempre foi irregular, não vinha nunca e resolvi esperar ela vir, pra não tomar e ter problemas de novo…
3 meses e alguns vômitos depois, descobri que estava grávida.

Não quis morrer, não entrei em paranoia, não tive medo… Fique insegura, claro que fiquei, fiquei pensando em “como” eu iria fazer isso… Se iria doer muito ou não e se eu seria uma boa mãe… Mas aceitei a gravidez com muita expectativa boa. Até saí pra comprar livros pro meu bebê no dia em que descobri o positivo com o teste de farmácia!
Marquei médico, mas SUS vocês sabem como é, demorei um mês pra ser atendida e ainda não fiz a ultrassom do SUS até hoje… Meu pai decidiu me ajudar pagando médico particular e aí que eu descobri a anencefalia, mas o médico estava com medo de confirmar o diagnóstico e só me deu o laudo confirmando quando eu já estava com 23 semanas de gestação…

Aí, como muita gente me perguntou: o bebê já devia estar enorme! Como você teve coragem?
Não gente, o bebê não estava enorme, o bebê tinha menos de 350 gramas, o bebê não estava crescendo mais, mal tinha pulmões e rins, pois eram menores do que deveriam ser, mesmo pra um bebê tão pequeno… Ele não iria respirar sozinho nunca.
Pelas contas da ultrassom, eu já estava indo do quinto pro sexto mês, se o bebê estivesse vivo ele nasceria vivo, ele poderia ir para a UTI e ser salvo, mas ele estava morto. Ele nasceu morto. Eu não tomei remédios abortivos, não injetei nada letal na minha veia que pudesse matar meu filho. Quando me internei no hospital, eu apenas usei de medicamentos que ajudariam meu corpo a ter um parto normal, só que antecipadamente.

Não, eu não conseguiria lidar com o primeiro velório, enterro e certidão de óbito da minha vida, sendo justo o do meu primeiro filho! Eu não perdi meus avós, eu não cheguei a conhecê-los, nunca fui num velório e só entrei em um cemitério uma vez na vida, em Portugal, pra conhecer (e me senti super mal lá dentro)!
Eu não tinha forças/cabeça pra enterrar meu primeiro filho. Podem me julgar, podem me chamar do que quiser, mas eu não iria conseguir lidar com isso de jeito nenhum – e pronto!

Sim, eu sinto saudades dele. É estranho, pois eu nunca senti o bebê mexer, eu nunca senti nada, além do enjoo, que indicasse que eu estivesse grávida, mas eu me senti grávida sim e sinto saudades de saber que o Kauã estava dentro de mim, sendo gerado.

Todo dia 3 eu choro, todo dia 3 é triste pra mim, porque foi no dia 3 que ele saiu de mim, foi no dia 3 que dissemos adeus um para o outro. Ter escolhido não lidar com o enterro do Kauã não faz de mim menos ou mais mãe que ninguém. Só me faz uma mulher, de 23 anos, frágil, que escolheu não enlouquecer mais ainda… Que escolheu não se machucar mais ainda… Que escolheu ter um pouquinho de paz em meio ao caos.
Não consegui fazer nem o chá de bebê do meu filho, imagina ter que organizar o seu enterro!?

Por isso, se você me julga pelo que eu fiz, pode julgar, Deus diz para não julgar, mas se você quer julgar, julgue a vontade. Mas se afaste de mim. Não preciso e não irei lidar com o seu julgamento.

Dentro de mim mora um vazio, um vazio preenchido de saudade, saudades do Kauã. Não, eu não o vi fisicamente, mas eu o senti e eu o amo e seu sou a mãe dele e eu me responsabilizo pelos meus atos e eu sei que fiz o melhor para nós dois… E ele sempre será meu primeiro filho, saiu do meu ventre para morar pra sempre em meu coração. E eu -apenas eu- sou a única que tem que lidar com a minha escolha.

Filho, feliz mêsversário… Espero que um dia a gente possa se encontrar de novo… Te amo, sinto sua falta! Você é insubstituível.

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K-Chan Nhayök

13 comentários em “4 meses sem meu filho

  1. Aime, não consigo nem imaginar o que é estar na sua situação, passar por isso. Mas te desejo muita, muita força mesmo nesse momento, nesses dias de saudade. Espero que daqui pra frente só coisas boas aconteçam na sua vida e que um dia, na hora certa, você seja uma mãe incrível. Beijão!

  2. Aime que lindo você contar a sua história.. e que história!!
    Eu não faço ideia da dor que você tem dentro do seu coração… só posso imaginar… Sabe, eu sou do time contra a legalização do aborto, por inúmeros motivos, um deles é a questão do SUS, mas enfim, em alguns casos como o seu, é algo legitimo!! Acho um absurdo que alguém julgue você. Eu desejo muita força… sempre…

  3. Eu fiquei sem palavras e nem sei o que posso dizer..
    Te julgar? Jamais… você pensou no melhor e eu não sei nem de perto como vc se sentiu e se sente..
    mas você é forte!

    =) Admiro

  4. Oi Aime! Primeiramente, parabéns pela coragem de expor isso no blog. Em segundo lugar, se te tranquiliza o aborto ou aceleração do parto é permitida pela lei no caso de anencefalia do bebê. E em terceiro lugar, fico espantada com a crueldade das pessoas que te julgaram. Ninguém melhor do que você pra decidir o que vc pode ou consegue suportar. Não admita que ninguém aponte o dedo pra você, porque vc foi forte e corajosa de ter enfrentado essa situação, que é muito triste. Realmente não havia nada o que fazer pelo seu bebê e você fez o que achou mais certo. Não aceite que ninguém te julgue, ok? Fique bem, querida.
    Senti falta de saber sobre o pai do seu bebê, se ele teve participação, se te apoiou, etc.
    Te desejo e melhor e força e amor pra seguir em frente.
    Beijos!

  5. Acho que tu foi MUITO corajosa, um exemplo de mulher. Não tens que dar bola pra julgamentos de pessoas que não sabem nada da tua vida, do teu coração. O que tu fez foi a coisa mais certa a se fazer, e quem sabe mais das tuas dores do que tu? Nessa hora ninguém tem o direito de te dizer nada que não seja pra trazer apoio, sororidade, amor e compreensão. Sinto muito pelo teu bebê, que mesmo não sendo planejado já era amado e querido, mas não tenho NADA, absolutamente NADA pra te dar a não ser um pouco de conforto e carinho. Estamos aqui por ti, irmã <3

  6. Você é um exemplo de força, sensibilidade, racionalidade e amor! Eu me orgulho muito da tua força, da tua atitude, do mulherão que você é e de ser tua amiga!
    O Kauã com ctza é muito grato e te ama muito, onde quer que ele esteja, e isso merece muito mais energia e atenção do que qualquer julgamento vil.
    <3

  7. nossa, primeiramente encontrei seu blog hoje e já To apaixonada quanto ao texto, me emocionei tenho uma filhonha de um ano e não sei se suportaria passar por nenhuma das duas coisas . Você foi e está sendo muito forte. E quando for aa hora certa Deus vai mandar bebe lindo pra você !

    Beijos ❤️

  8. Oi, coração!

    Saudades de você! Reencontrei seu blog por acaso, fuçando minhas boas lembranças ^_^
    Queria saber como você tava e trombei com este post. Isso realmente aconteceu?!
    Desculpa, estou parecendo uma alienada, mas tive (e tenho) meus problemas. O que eu posso dizer de bom: estou ótima, fazendo coisas maravilhosas, inclusive dei uma repaginada no meu blog.

    Saudades, te adoro muito, mana
    Beijos

  9. Nossa, como você foi corajosa em abrir seu coração aqui. Em se expor e dar a cara a tapa. Ninguém tem o direito de julgar! Só sabe como é viver isso quem já vivenciou. Eu sinceramente não sei qual seria minha atitude. Mas eu também sofreria bastante. Mas Deus sabe o que faz e sabe que você seria forte pra passar por isso. E só Ele sabe o que te levou a fazer o que fez. Parabéns pelo texto! Grande beijo e melhoras.

    https://www.facebook.com/blogmyrlenaraquelly

  10. Sempre que leio algo a respeito do seu Kauã me dá uma vontade de chorar. Que tristeza, gente.. =( Mas você fez tudo o que pode, e definitivamente, Deus faz a coisa certa. Tenha fé. 🙂

  11. Caramba Kla, que história mais triste em, querida? nem sei o q dizer&#sempalavras: nem sei o q é esta numa cituação dessas!
    Uma coisa eu falo: eu sabia que isso não foi uma gravidês planejada porque primeiro, la pra 2008/2009 vc e a muito tempo antes vc não queria casar nem
    ter filhos: um tempo se passa, e vc não sabia se queria ter ou não ter, hoje não sei a sua opinião, pq vc nunca mais comentou aqui sobre isso: nessas
    horas eu fico caçando palavras confortáveis, mais eu te entendo, nenhum outro bebê que vc tenha, vai “preencher o vasio do primeiro, porque, filho é
    filho! tenha fé querida..com o tempo tudo se ajeita, eu achei a frase q eu acabei de falar tão clichê, sabe? porque é clichê? porque nada se ajeita,
    a gente se conforma, isso mesmo, a gente só se conforma, porque esquecer, nunca! espero que algum dia consiga superar.

    1. Obrigada pelo carinho e pelo interesse no meu blog! <3

      Pois é, ainda hoje eu nao sei o que responder sobre filhos hahaha, mas eu sempre soube que eu teria "sem querer"... e foi o que aconteceu... mas infelizmente ele nao ficou aqui comigo e acho que não tem um "motivo" nisso, só temos que nos conformar e deixar o tempo passar mesmo né???

      beijao!

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